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O filme “Ainda estou aqui” e o luto por pessoa desaparecida

  • perdaselutopsi
  • 4 de mar.
  • 2 min de leitura

O cinema brasileiro fez história ao ganhar sua primeira estatueta do Oscar com o filme “Ainda estou aqui”, dirigido por Walter Salles e que narra a história de Eunice Paiva, que teve o marido, Rubens Paiva, um ex-deputado, sequestrado e morto durante a ditadura militar.


O reconhecimento de sua morte só ocorreu décadas depois, através dos trabalhos da Comissão Nacional da Verdade, criada para apurar crimes da ditadura.  Eunice levou vinte anos para conseguir um atestado de óbito e o corpo de Rubens Paiva permanece desparecido até hoje.


O filme retrata o impacto de uma pessoa desaparecida no seio familiar e dá voz a tantas outras pessoas que vivem este mesmo luto, sem um corpo, sem um atestado de óbito, sem um reconhecimento oficial da perda, impossibilitadas de realizarem seus rituais de despedida e honrar suas histórias.


A incerteza sobre um desaparecido afeta todos que estão a sua volta, seu vazio silencia todas as vozes, nem vivo, nem morto, nem presente e nem ausente. O tempo, vazio de respostas, perpetua uma dor que parece que não tem fim.


Todo este contexto de ausência, que pode se prolongar por anos ou nunca ser solucionado, de vazio, sem resposta, sem trégua, pode trazer complicadores para este luto, impedindo sua elaboração, que passa a ser um luto não reconhecido.


O luto não reconhecido é aquele que não é validado pela sociedade, neste caso, devido à ausência de corpo. Incerteza é geralmente o sentimento que marca este tipo de luto, como aceitar a perda de um ente querido quando não se tem certeza de que ele se foi? Sentimos o luto pela ausência do ente querido, ao mesmo tempo que adiamos o luto pela incerteza da morte.


Falamos então de luto por perda ambígua, onde manifestamos a esperança de encontrar o ente querido, e lidamos com todas as emoções das incertezas, da angústia e da espera pelo pior. Sentimentos conflitantes e que permanecem em aberto, enquanto a situação permanece incerta.


De acordo com Bowlby (1998) a ambiguidade da perda pode gerar uma série de conflitos emocionais nos enlutados, incluindo raiva, culpa e tristeza. O autor destaca também a importância de equilibrar a esperança de que o ente pode retornar, com a necessidade de aceitar a realidade da perda.

 
 
 

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